quarta-feira, 7 de maio de 2014

Mudanças Climáticas: Uma Dura Realidade Que Precisamos Aprender Como Enfrentar

Sei que existe  parte do meio científico que alardeia o fato de que as mudanças climáticas ocorrem de tempos em tempos no Planeta e que a ação humana pouco ou nada tem a ver com esta questão.

Por outro lado, existem os que se empenham em defender a tese de que nós humanos causamos diversos distúrbios na natureza, dentre eles o aquecimento global, por emissão de CO2 (dentre outros), derretendo calotas polares, permitindo a vazão de metano em grandes quantidades, acelerando sobremaneira tal aquecimento, podendo levar a extinção da vida na Terra.

O fato inegável é que nós não aprendemos ainda como nos comportar dentro do nosso meio. Somos assassinos ecológicos, causamos males terríveis a natureza, não respeitamos sequer a própria espécie, pois acumulamos bens, desejamos o supérfluo, em detrimento de muitos que estão às minguas.

A questão alimentar perpassa o tema destacado, afinal a alimentação carnívora está na contramão da real necessidade e urgência. Os números não nos deixam margens para especulações contrárias.

Um boi, para gerar em média 200 kg de carne em cerca de 4 a 5 anos, consome de 3 a 4 hectares de terra, o que daria para produzir, neste espaço e no mesmo período de tempo, 19 toneladas de arroz, ou 32 toneladas de soja, ou 34 de milho, ou 23 de trigo ou ainda 8 de feijão, sendo que o terreno suporta 2 a 3 colheitas por ano!

Quase um terço da superfície terrestre do planeta é destinada à criação de gado.
Além disso, anualmente, cerca de 200.000 km quadrados de florestas tropicais são destruídos para criação de pastos para gado, levando à desertificação e extinção de aproximadamente 1000 espécies de plantas e animais. Uma lástima.


Porém, e embora esta triste realidade, e mesmo se levarmos em conta que a ação humana não seria causadora de desastres naturais (que me parecem muito mais respostas claras aos nossos desmandos), o que precisamos analisar com urgência são as questões de adaptação.

Ontem (06/05/2014) saiu o relatório sobre Mudanças Climáticas, com 1300 páginas e mais de 240 cientistas envolvidos:  Mudanças Climáticas – Versão Final do Relatório do Governo dos EUA


“As mudanças climáticas, antes consideradas um conjunto de eventos para o futuro distante, moveu-se com firmeza para o presente.  As evidências são visíveis desde a mais alta atmosfera até o fundo dos oceanos.  Os norte-americanos estão percebendo as mudanças climáticas em todos os lugares à sua volta.  Os verões estão mais longos e quentes, e os períodos de calor extremo se estendem mais do que qualquer norte-americano jamais experimentou.  Os invernos tornaram-se mais curtos e quentes.  A chuva chega em pesadas tempestades, embora em muitas regiões ocorram prolongadas secas entre elas.” – afirma o relatório preliminar (que se encontra disponível para download em sua totalidade e em capítulos, já que o arquivo completo é muito pesado, com 147 MB).

O relatório afirma que a temperatura média nos EUA subiu 0,8º C desde o início dos registros, em 1895, mas que desse aumento cerca de 6,4º C ocorreram depois de 1980.  A última década foi a mais quente da história dos EUA desde o início das medições.  A temperaturas estão subindo mais rapidamente do que a média nas latitudes mais altas, como no Alaska.

“Períodos de extremo calor, que batem todos os recordes, estão acontecendo até mesmo à noite, e espera-se que ocorram mais secas e incêndios por combustão espontânea no sudoeste.  Ao mesmo tempo, o nordeste (dos EUA), o meio-oeste e os estados situados nas Grandes Planícies verão aumentar as tempestades e as enchentes.” – afirma o relatório (de acordo com a mesma fonte).

Algumas mudanças já estão tendo efeitos mensuráveis na produção de alimentos e na saúde pública, afirma o relatório.


Por determinação do Congresso, esse tipo de relatório deveria ser produzido a cada quatro anos, mas isso nunca ocorreu antes, desde o período de George W. Bush ou no primeiro mandato de Obama.

"Vale lembrar que Os EUA, de longe o país responsável pelas maiores emissões de gases causadores de mudanças climáticas per capita, mesmo exportando grande parte de sua produção para a China e outros países, nunca subscreveu a qualquer tratado internacional para reduzir essas emissões." - lembra Luís Prado, economista e ecologista, escritor e comentarista ambiental.

Mas, e o que faremos com estes resultados que batem a nossa porta? Como darmos conta de nos adaptarmos a esta nova realidade, que muda a cada dia para pior?

Cabe-nos primeiramente uma reflexão. Se tudo o que viemos fazendo ate agora está nos levando ao buraco, continuarmos na mesma trilha só nos fará cair, desesperar, sem nenhum proveito com as experiências vividas.
Nosso modo de ser na pós-modernidade, com relações fluidas, ações automáticas e devaneios materialistas, tem-nos feito reféns das psicopatologias e psicotrópicos.

Já passamos da hora de nos perguntarmos os porquês do mundo, da desigualdade, dos desmandos políticos, do consumo e todos os seus acompanhantes, filhos de um sistema predatório no qual estamos inseridos, adoecidos e dormentes.

Já não há mais tempo para continuarmos com o eterno "deixa pra depois!". Precisamos nos preparar (também psicologicamente) para darmos conta da demanda. Embora ainda acredite em amenizações (se mudarmos já!), entendo que mesmo assim teremos momentos difíceis pela frente.

Deveremos nos munir de muita perseverança e resiliência. Como já alertou o amigo Denis Moreira, autor do livro "A Grande Transição da Terra - O Sentido de Urgência",  a melhor preparação para darmos conta de eventos deste porte “é íntima, psíquica, no palco das emoções, na fortaleza da mente, non reino do Espírito. De pouco adiantará se preparar para desastres naturais, para se proteger da criminalidade, de ameaças terroristas, de enfermidades epidêmicas, das oscilações da economia ou de tragédias pessoais, se nossa vida não tiver um significado maior, transpessoal; se o nosso Espírito estiver vulnerável, oco, vazio, sem uma granítica base espiritual. O cristão, e em particular o Espírita, tem se preparar para as perdas. Deve compreender a morte como um fenômeno natural e não como um fim. Precisa estar preparado para manter o equilíbrio, a paz interior, o bom senso, mesmo em situações extremas. Mais que isso, deve estar a postos para prestar auxílio e não para ficar paralisado, reclamando da vida e assustado” (MOREIRA, p. 210).

Um significado maior, transpessoal significa ter um sentido de vida. Como já dizia Viktor Frankl, "Quem tem um 'porquê', enfrenta qualquer 'como'".



Precisamos buscar nos recônditos da alma, a função de nossa existência, a razão de estarmos aqui, neste mundo, neste momento histórico, nesta cultura. E, a partir daí, seguirmos adiante, fortalecidos e com novas aspirações, mais nobres, mais humanas, mais fraternas e ecologicamente corretas.