Quem me conhece sabe que, antes de mais nada, me apresento como Espírita. Isto tem uma razão de ser: a Doutrina é, também, filosofia, portanto norteia minha existência através de sua reflexão, de seus axiomas. Jamais porque pretendo algum proselitismo. Respeito todas as formas de crer (e de não-crença religiosa) e entendo que cada qual tem o direito de trilhar os caminhos de espiritualidade (ou não-espiritualidade) conforme deseja (ou possa).
Desta maneira, digo também que sou Psicóloga, porém tenho uma base que me orienta nas questões do psiquismo. Para mim, o humano é um ser bio-psico-sócio-espiritual - quando nasce não é apenas uma folha em branco, mas traz tendências, saberes inconscientes e muito material inacessível a nós. Ele é corpo, mas possui processos psíquicos, sendo amplamente influenciado pelo meio onde está inserido (influenciando-o, mutuamente).
Mas não apenas isto: todos temos uma dimensão de transcendência (o "Deus está em vós"- ensinado por Jesus) - um aspecto da alma que jamais adoece e que pode ser acessado, dando-nos o impulso para a transcendência, para a superação. Sendo assim, embora reconheça a contribuição inestimável da psicanálise, com as questões do inconsciente, suas tópicas, defesas e outros conceitos, meu olhar vai também em direção a um humanismo que carrega em si a questão espiritual e sua tendência atualizante, evolutiva. Isso em nada diminui minha busca científica, ao contrário. Não faz da minha práxis algo do tipo salada mista, ou salada mística (como preferir!), mas um fazer que compreende este olhar que segue além do plano material. Comungo com Viktor Frankl, com Carl Rogers, ou mesmo com Hellinger, aliás.
Porém também me ocupo, levo em conta os porões do inconsciente e nosso lado mais sombrio com coragem, lucidez e boa vontade. Porque acredito que só quando reconhecemos nossos monstros mais secretos, aceitando-os como são é que conseguimos dar a eles um lugar dentro da realidade consciente, com possibilidades de abrandar sua força sobre nós, tornando-os gerenciáveis e, se possível, extirpando-os.
Ainda dentro desta filosofia, tento ser mãe, esposa, amiga, escritora, fotógrafa e filha. Se cometo erros? Sim, claro! Mas tento me manter firme dentro do roteiro que escolhi, usando este "waze" existencial.
Aliás, posso dizer que me tornei vegetariana justamente por levar em conta os preceitos que decidi abraçar. Seria um contra-senso continuar nutrindo meu corpo com alimentos advindos do sofrimento/morte de outros seres.
Quando fotografo os elementos da natureza busco Deus em cada Ser. Também aí estou sendo Espírita. Quando me aborreço comigo mesma, por conta de alguma "pisada na bola", ou quando toco uma canção no meu violão, estou sendo Espírita.
Até quando decido me calar ou dizer algo específico...
Poderiam dizer que existem outras filosofias que carregam estas tendências. Sim, eu sei. A filosofia Budista chega bem perto, aliás. Então, por que não sou Budista? Porque não acredito na metempsicose e, para mim, existe uma força cósmica soberanamente inteligente e amorosa, a que chamamos Deus.
E por que será que não sou hinduísta, já que para eles o Ahmisa (não-violência) está na base, assim como a questão da divindade em cada um, a reencarnação, etc.? Porque também não sou a favor da manutenção das castas* - tenho uma crítica social totalmente cristã (de esquerda, portanto), onde não cabem privilégios para uns em detrimentos de outros. Enfim, existem outros pontos, mas já bastaria este para justificar minha decisão.
Escrevo isso não para influenciar pessoas, mas para dizer que (como um desabafo) enquanto vida em mim existir, continuarei divulgando a necessidade do amor a todas as criaturas, tanto para com os homens, mulheres e crianças (por isso escolhi a Psicologia), como para com os animais, vegetais e mesmo os elementos de onde se originam e se mantém todos os tipos de vida: ar, terra e água.
Também escrevo para dizer que não acho "menos espírita" aquele que, assim como eu, ainda derrapa nas estradas da vida. O que já faz isso mas não faz aquilo outro.. Aliás, julgar o fazer dos outros não está no roteiro deste Blog, nem da minha vida. Apenas falo de mim, das minhas escolhas... e convido a quem quiser/puder escutar este chamado Espírita a este pensar/repensar das próprias escolhas.
Apenas isto.
Também escrevo para dizer que não acho "menos espírita" aquele que, assim como eu, ainda derrapa nas estradas da vida. O que já faz isso mas não faz aquilo outro.. Aliás, julgar o fazer dos outros não está no roteiro deste Blog, nem da minha vida. Apenas falo de mim, das minhas escolhas... e convido a quem quiser/puder escutar este chamado Espírita a este pensar/repensar das próprias escolhas.
Apenas isto.
*Em textos clássicos do hinduísmo, como os cânticos do Rig
Veda (2400-1000 a.C.) ou as leis de Manu (500 a.C.), já se encontram alusões à
existência de quatro varnas que dividiam a sociedade: os brâmanes (sacerdotes e
intelectuais), os xátrias (guerreiros, administradores e monarcas), osvaixás
(comerciantes e agricultores) e os xudras (serviçais em geral). Alguns desses
textos clássicos representam códigos religiosos-legais que regulamentam
condutas sociais, profissionais, aspectos morais e éticos.